Confira, no artigo a seguir, as razões que fazem com que a alfabetização ambiental seja um tema fundamental no currículo escolar das crianças.

Em 2021, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) divulgou uma análise dos planos e currículos de educação de 50 países. O documento mostrou que apenas 19% desses materiais tratavam sobre biodiversidade e mais da metade não faziam nenhuma referência à mudança climática. Essa análise foi discutida durante a Conferência Mundial UNESCO – Educação para o Desenvolvimento Sustentável, na Alemanha, quando a Organização declarou que a educação ambiental deve ser um componente curricular básico nas escolas até 2025. Mas por que é tão importante trabalhar esse tema nas escolas?

Alfabetização ambiental e educação ambiental são a mesma coisa?

Antes de falarmos sobre a importância da educação ambiental nas escolas é importante esclarecer a diferença deste conceito para o de alfabetização ambiental. O artigo VI da Constituição trata especialmente do tema meio ambiente. O parágrafo 1º do artigo 225 determina que é dever do poder público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Mas educação ambiental e alfabetização ambiental são a mesma coisa? A resposta é: não.
Apesar de os dois conceitos tratarem do mesmo tema, o meio ambiente, a abordagem é distinta. A educação ambiental é mais superficial, sugere aulas sobre meio ambiente, a promoção de discussões pontuais sobre algumas questões relativas à sustentabilidade ou acréscimo de um ou dois cursos dentro de uma grade curricular que tenham foco em uma educação mais formal. Já a alfabetização ambiental é um processo mais profundo em relação aos códigos que sustentam uma perspectiva de consciência ambiental. Quando falamos de alfabetização ambiental, o que se propõe é um mergulho mais denso em relação a nossa perspectiva ecossistêmica do mundo. Estamos falando de educação em seu instinto mais amplo.
De acordo com a diretora de Inovação em Processos de Aprendizagem e cofundadora da Casa Fundamental, Maria Carolina Mariano, quando instigamos as crianças a se aprofundarem nos conceitos mais fundamentais, que estruturam a perspectiva de meio ambiente, estamos falando de vida. “Educação é vida. Então, a gente está falando de um mergulho mais profundo naquilo que estrutura nossa relação com a vida. Isso é alfabetização ambiental”, afirma.

Qual a importância de se trabalhar a alfabetização ambiental nas escolas?

Estamos vivendo, hoje, um contexto de emergência ambiental. O aquecimento global causado pela atividade humana não tem precedentes e iremos conviver com o impacto das emissões de gases do passado durante as próximas décadas. Dependendo do cenário de emissões, nós podemos ter uma situação com pequenos, mas significativos, impactos socioambientais ou até uma situação de mais aumento na temperatura, o que pode tornar muito difícil a disponibilidade de água e causar impactos graves na saúde. “Talvez as gerações anteriores tenham tido o privilégio de se relacionarem com as questões ambientais quase como algo para um futuro distópico, que nem imaginávamos que fosse chegar. Mas, infelizmente, por nossa culpa mesmo, não temos mais esse tempo”, diz Maria Carolina Mariano.
Para que as crianças sobrevivam, sejam bem-sucedidas e tenham uma vida que faça sentido no futuro, é fundamental propiciar que meninos e meninas entendam, tanto intelectualmente quanto de forma prática, o que está acontecendo com o mundo e sejam capazes de desenvolverem tecnologias, ferramentas, códigos, linguagens etc. para ajudá-las a estar nesse mundo em que vão precisar não só preservar, mas regenerar o ambiente. É por isso que precisamos ensinar códigos ligados a alfabetização ambiental. “A alfabetização ambiental é fundamental para que as crianças tenham essa compreensão ecossistêmica da vida. Eles não estão sozinhos, existem outros seres vivos e existe uma rede desse sistema ecológico que sustenta a vida”, afirma a diretora de Inovação em Processos de Aprendizagem e cofundadora da Casa Fundamental.
E, pensando na proposta da instituição, que pretende proporcionar uma educação que faça sentido para as crianças do tempo presente, é impossível não trazer para o centro das experiências educacionais uma perspectiva de consciência ambiental.

Como é a alfabetização ambiental na Casa Fundamental?

A concepção pedagógica da Casa Fundamental é definida pelo conceito de Múltiplas Alfabetizações. Em linhas gerais, a alfabetização é um movimento em que deciframos um código (por exemplo, o código linguístico, no caso da Língua Portuguesa), nos apropriamos desse código e criamos a partir disso. Sendo assim, as possibilidades de alfabetização são infinitas. Na Casa Fundamental, escolhemos seis grandes áreas que sustentam nossa experiência pedagógica. Uma dessas áreas é a alfabetização ambiental.
E, quando falamos em alfabetização ambiental, sempre falamos, também, sobre alimentação. A Casa Fundamental é uma escola em tempo estendido, dessa forma, as crianças fazem três das principais refeições na instituição. Por isso, há a preocupação de proporcionar uma alimentação que as crianças aceitem, que seja saborosa, e que, ao mesmo tempo, seja nutritiva. Sendo assim, priorizamos alimentos frescos em detrimento dos industrializados. Além disso, a cozinha da Casa Fundamental tem uma estrutura com paredes de vidro transparente, o que permite que as crianças se relacionem, diariamente, não só com o alimento produzido e entregue a elas, mas também com os ingredientes in natura antes e durante o preparo da refeição. “Elas veem os alimentos sendo transformados, elas sentem os cheiros. Essa experiência de acompanhar o processo de preparo do alimento é muito importante para que as crianças entendam o que é alimentação, o que é comida, e isso faz parte do cotidiano do que é viver. Alimentar-se, nutrir-se faz parte dessa visão de ecossistema”, afirma Maria Carolina Mariano.

Biofilia, um conceito que inspira o trabalho da Casa Fundamental com a alfabetização ambiental

A biofilia é, literalmente, nutrir afeto a vida. Na Casa Fundamental, a biofilia entra como uma abordagem conceitual que ajuda a criar experiências, metodologias, processos, práticas para desenvolver os códigos ligados à alfabetização ambiental. Todos os projetos desenvolvidos na Casa Fundamental, sobretudo da primeira infância, são focados na biofilia. Então, sempre que é desenvolvido um currículo ligado à matemática e suas tecnologias ou alfabetização em língua materna, por exemplo, também é trazida uma estrutura ligada à natureza.

Colocando a mão na terra para criar uma horta agroflorestal

Para qualificar ainda mais o trabalho da Casa Fundamental com a alfabetização ambiental, será construída uma horta agroflorestal de 450 metros quadrados. Para isso, a instituição adquiriu um terreno ao lado da escola que será regenerado pela comunidade. Além da horta, será criada, também, uma biblioteca de sementes com espécies raras (algumas delas em processo de extinção). “Sempre tivemos essa visão de que a sala de aula ideal para alfabetização ambiental é uma floresta e toda complexidade desse ecossistema que a floresta reproduz ou que a floresta sustenta, que é o ecossistema da vida. Estamos muito felizes de finalmente conseguirmos trazer essa sala de aula da alfabetização ambiental do jeito que a gente acredita que deveria ser”, conta Maria Carolina Mariano.
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